Nas longas caminhadas, além de ser um ótimo exercício e um momento muito especial com papai ou comigo, Mahal descobre um pouco a cidade onde vive, como a zona portuária de Porto Seguro, por exemplo, ou a beleza das noites de lua cheia na praia. Assim, ele também se prepara para a aventura por vir, a viagem a Paris, no segundo semestre, e segue curioso e animado. Volta e meia, conversamos sobre a cultura e os queijos franceses, a diferença entre Gorgonzola e Roquefort, croissants e outras iguarias, e assistimos algum vídeo educativos.
Em abril e maio, conversamos também sobre outros temas interessantes. Ele escutou pela primeira vez sobre Martin Luther King, sua luta contra o racismo, e a importância dos direitos humanos. Falamos de diferentes tipos de escolas e professores, e conversamos sobre o que é estudar, já que muitas vezes ele demonstrou resistência ao escutar essa palavra. Voltamos também a falar sobre os diferentes estados do Brasil com a ajuda de um quebra-cabeça.
Continuamos cultivando os encontros com amigos na Praça, às sextas-feiras, ou em outras oportunidades, como festas de aniversário ou encontros aos fins de semana. Fizemos também uma pequena excursão com alguns amiguinhos até Trancoso, onde visitamos o centro histórico e as crianças se aventuraram no cemitério.
Abril foi o mês do aniversário de 8 anos e trouxe muitas emoções, pois ele convidou todos os amigos e um amigo em especial, que veio a todas as suas festas nos últimos anos, exceto durante a pandemia: O Homem Aranha. Foram dias intensos com longas conversas on-line, com parte da família que mora nos EUA e outra parte que mora na Alemanha. Aproveitamos também essa data para relembrar o passado, falar das diferentes fases da vida, contamos novamente a história do parto humanizado em Florianópolis, que ele adora. Conversamos sobre o tempo e as mudanças que ele traz, sobre o que aconteceu desde o parto até o momento presente, inclusive seu crescente interesse por aprender letras de músicas e tocar instrumentos, por exemplo, que já se fazia sentir desde que era pequenininho e até antes disso. Lembrei recentemente que, quando Mahal estava na barriga, “escutei” repetidas vezes, como um sussurro, um aviso de que “música” estava a caminho, e chegaria em breve, para alegrar a família.
Mahal começou a demonstrar mais independência e curiosidade em relação a tarefas de casa, como a limpeza, alimentar os bichos, ou a preparação de algumas comidas, pediu repetidamente para se servir sozinho quando sentado à mesa, nos lembrou veemente e constantemente dos acordos de não falarmos palavrões nem usarmos telefone celular durante as refeições, começando a perceber seu papel individual e suas pequenas responsabilidades como membro da família. Ajudou e se preocupou com a avó, quando esta sofreu uma queda e tem se mostrado extremamente afetuoso, abraçando frequentemente tanto os membros da família quanto amigos e conhecidos que encontramos na rua. Gosta especialmente das sessões de chamegos e mimos que fazemos ao acordar, com papai, com direito a sanduíches de beijinhos como quando ele era bebê. Ao mesmo tempo, por vezes é colérico e passou a questionar ainda mais as decisões dos adultos e discutir com ardor sobre seus direitos e deveres, discussões desafiadoras que levaram a algumas brigas, como também a longas conversas e aprendizados profundos para todos nós.
Uma questão recorrente que vem sido discutida com os pais é se ele deve ou não aprender as músicas feitas para os joguinhos de que ele tanto gosta, como Doors e Garten of Banban, do canal Rockit Music. Ele já aprendeu algumas delas, inclusive a tocar duas ou três no piano e cantar ao mesmo tempo. São canções ritmicamente interessantes que, no entanto, têm em sua maioria letras densas e inquietantes, que falam sobre doenças mentais, isolamento, depressão e não são adequadas para a idade dele. Eu lhe peço para não ficar só aprendendo essas músicas e diversificar seus gostos musicais, como também para não jogar com jogos que envolvem armas de fogo e matar. Explico que, por mais que sejam joguinhos divertidos ou músicas bonitas, é importante entender de que tratam. Tem sido uma oportunidade para começar a conversar sobre temas complexos, como doenças mentais e suprimir vidas.